terça-feira, 12 de junho de 2012

Aos desiludidos do amor, com carinho...

Henry Miller, entre seus dois amores,no filme "Henry & June"


Vamos recapitular: este cronista dançou, na semana que antecedeu esta fatídica data dos pombinhos, no ritmo do dois pra lá, dois pra cá.

Um olho alvejando o romantismo de vitrine que humilha as damas e os cavalheiros solitários; outro olho no band-aid no calcanhar da moça ainda ferida da última dança.

Agora é hora do encorajamento, como acabei de reaprender aqui com o camarada Henry Miller, no singelo “O mundo do sexo” (José Olympio Editora).

“Tão certo como nasce o dia, fica claro demais que poucos são os que merecem o título: HOMEM”, diz o cara do Sexus, Plexus e Nexus. Ele conclama, desafia, é hora de honrar as saias e as calças.

No amor romântico, no amor erótico ou no pacote completo.

É por isso que eu repito em mais uma oração subordinada às moças:

Triste de quem fica desiludido(a) e evita outro amor de novo, cai no conto, blasfema, diz “tô fora”, já era, tira onda, ri de quem ama, pragueja e nunca mais se encontra dentro das próprias vestes.

Como se o amor fosse um quiosque de lucros, a bolsa de mercadorias e futuro, um fiado só amanhã, um comércio.

Como se dele fosse possível sair vivo, como nunca tivesse ouvido aquela parada de Camões, a do fogo que arde e não se sente, a da ferida, aquela sampleada por Renato Russo.

Triste de quem nem sabe se vingar do baque, sequer cantarola, no banheiro ou no botequim, “só vingança, vingança, vingança!”, o clássico de Lupicínio, o inventor da dor-de-cotovelo, a esquina dos ossos úmero com os ossos ulna (antigo cúbito) e rádio, claro, lição da anatomia e da espera no balcão da vida.

Tudo bem não querer repetir, com a mesma maldita pessoa, os mesmos erros, barracos e infernos avulsos e particularíssimos.

Triste de quem encerra o afeto de vez, como se aquela mulher e/ou aquele homem “x” fossem fumar o king size - duvidoso e sem filtro - lá fora e representassem o último dos humanos.

Chega do mané-clichê: todos os homens ou mulheres são iguais. Argh.

São, mas não são, senhoras e senhores. Cada vez que uma folha se mexe no universo a vida é diferente – acho que roubei isso da arte zen de consertar motocicleta.

Todos os machos e todas as fêmeas são novidades. Podem até ser piores, uns mais do que os outros, porém dependem de vários fatores. Não adianta chamar o garçom-do-amor e passar a régua para sempre por causa de apenas um traste. Como se esta miserável criatura representasse a parte pelo todo da panelinha do mundo.

Já pensou quantos amores possíveis você estaria dispensando por essa causa errada?

E quem disse que amor é para dar certo?

Amor é uma viagem. De ácido.

E tem mais: a única vacina para um amor perdido é um novo amor achado. Vai nessa, aconselho! Só cura mesmo com outro. Mesmo que um placebo.

Muitas vezes não temos o amor da vida, mas temos um belo amor da semana, da quinzena, que de tão intenso e quente logo derrete. Foi bonita a festa, pá e pronto.

Vale tudo, só não vale o fastio e a descrença. Levanta desta ressaca amorosa, meus Lázaros e minhas Lázaras.

Oração para o amor não-correspondido...




O amor sempre tem uma mão só. E não estamos falando,amigo, daquela máxima do Woody Allen sobre a masturbação, que seria a melhor forma de fazer amor com a pessoa que você mais ama.

Tratamos do amor mesmo, o dos pombinhos, na sua forma mais óbvia. Daí repito: o amor sempre tem uma mão só. Mesmo quando é correspondido, nunca o é por inteiro –sempre um ama mais do que o outro. Eis o grande suspense hitchcockiano da existência.

Daí esta oração para ser lida em voz alta, por você que se acha injustiçado:

Nossa Sra. dos que Amam Sozinho ou amam mais que o outro, perdoa-me pela insistência, nem mais é por tanto querê-la, é por deixar claro, moça que sopra das intimidades dessa oração, que só ela me faz passar da conta, perversa, me faz cair no abismo mais lindo do gozo sem volta, como naquele encosto de beira de estrada, como na rodovia estrangeira de Sam Shepard, crônicas de motel, simbora!

Nossa Sra. dos que só pensam nela, cotovelos lanhados de tanta espera, tantos sustos nas ruas, nos bares: “É ela!!!”.

Nossa Sra. Dos Cotovelos da Surpresa e das janelas, tão gastos, cinzas, peles, dobras, e tanta fome de viver aqui dentro, megalomaníaco, épico, terá sido a força do desprezo?

[Não creio, sr. Albero Moravia, meu guru de tantos ensinamentos amorosos e anarco-comunistas].

É mesmo a paudurescência, nostalgia precoce,compacto dos melhores momentos editado a toda hora no juízo.

Nossa Sra. da Vida Alongada que consegue, nos seus exercícios de Kama Sutra, me levar ao nirvana. Nossa Senhora da Yoga que deixa o corpo dela como nunca dantes na história dessa pátria!

Amor demorado, anjo exterminador da alcova.

Amor por tê-la, rara.

Beijá-la delicadamente, como um católico que dissolve na boca uma hóstia,um evangélico que fala a língua de pentecostes, um budista que levita, o fundamentalismo do homem-bomba.

Amar por horas lá embaixo daquelas tuas vestes modernas que nunca te escondem.

Lua cheia, vida minguante.

Escuto Le Déserteus, do velho Boris Vian, ouviste?.

Nossa Senhora dos que sentem muito e amam sozinho, rogai por nós que recorremos a vós!

O amor é mesmo uma rua estreita, que mesmo com todo progresso e planejamento urbano, sempre terá uma mão só. Engarrafada. Sem saída.

PRIORIDADE...

É muito importante que você procure um tempo só seu, pois o primeiro lugar e você, depois vem as outras coisas.