quarta-feira, 21 de abril de 2010

Como contrariar a ordem do chefe



sáb, 17/04/10 por Thiago Cid 


Ninguém sabe o que se passou na cabeça de cada executivo e contador da empresa americana Enron quando eles forjaram o balanço da companhia e esconderam dívidas superiores a US$ 25 bilhões (a empresa foi considerada um estrondoso caso de sucesso e inovação até se desintegrar na megafraude descoberta em 2002). Muitos podem ter se sentido mal ou com medo ao maquiar os números, mas o fizeram mesmo assim. Quantos deles tentaram reagir? Como um funcionário poderia ter evitado a pilantragem?  E no Brasil, será que algum funcionário da Sadia teve dilemas diante de ordens relacionadas ao uso de derivativos cambiais que resultou em prejuízo de quase R$ 800 milhões para a empresa, divulgado em 2008? O que fazer quando o chefe dá a você uma tarefa desagradável ou que você considere antiética?
Claro, a Enron é um exemplo extremo. Ela empregava mais de 21 mil funcionários, vários níveis agiram em conluio e a pressão em cima dos que resistiram à fraude deve ter sido esmagadora. E as tarefas distribuídas não eram apenas antiéticas — eram ilegais. Mas imposições de tarefas que contrariam os princípios do funcionário acontecem diariamente nas empresas. Uma pesquisa feita pela consultoria americana Ethics Resource Center apontou que 10% dos entrevistados já receberam ordens para executar tarefas de caráter duvidoso. Desses, 69% afirmaram que as determinações vieram do superior imediato.
Adotar como caminho a obediência cega (ou cínica) pode até parecer a solução mais prática, realista ou segura para a manutenção do emprego. Mas ela traz riscos. O executor de uma tarefa dessas corre sempre o risco de levar a culpa sozinho, sem que o chefe que deu a ordem assuma qualquer responsabilidade. Na hora em que os resultados ruins aparecem, afirmar “eu estava só cumprindo ordens” não adianta muito.
Nós listamos algumas medidas de segurança para você adotar, caso acredite que esse tipo de tarefa vá cair no seu colo, e conversamos com oWilson Lourenço, diretor da consultoria de recursos humanos Compass, que deu alguns conselhos sobre como lidar com essa desconfortável situação:

1 – faça uma distinção clara entre tarefas A) simplesmente desagradáveis para você (mas não prejudiciais a empresa nem a ninguém), B) que você considere equivocadas do ponto de vista tático ou estratégico do negócio (mas não imorais nem ilegais), C) antiéticas ou imorais (que dependem, em grande parte, do que você acredita e do que é aceitável no seu meio) e D) ilegais (que você deveria denunciar, sempre). Cada uma exigirá um tipo e uma intensidade de reação diferente;
2 – conhecer os gostos e valores do chefe ajuda a entender o que o motiva. Tende entender logo o que o irrita, o que o acalma, como ele reage a uma opinião contrária e o que causa empatia, a fim de negociar melhor. Se for o caso, busque informações – discretamente – com colegas e outras pessoas que tenham acesso mais fácil a ele;
3 – quem se vê prostrado diante de dilemas morais no trabalho deve treinar a assertividade nas relações pessoais e familiares. Seja por timidez ou medo, praticar dizer “não” em círculos mais íntimos dá a confiança para repetir a resposta no trabalho;
4 – registre as ocasiões em que o curso de ação inicialmente planejado acabou mudando, e aquelas ocasiões em que a mudança levou a um bom resultado final (a mudança não precisa ter sido sugestão sua). Esses episódios serão munição valiosa em discussões futuras;
5 – se o fatídico pedido chegar, o profissional deve se munir de informações e organizar a tática para negociar. Há dois caminhos básicos: dizer que não se sente confortável com a tarefa e pedir para não realizá-la ou tentar demovê-lo da ideia;
6 – recorra ao poder do exemplo — estratégias fracassadas, carreiras prejudicadas e imagens arranhadas em episódios passados podem ser bem convincentes. Pelo menos no campo da imagem e da comunicação, a maré está a favor dos indivíduos e organizações éticos e atentos às necessidades do público mais amplo;
7 – há sempre uma grande chance de o chefe não ceder. Se o pedido realmente for devastador, toda a relação já está em crise. O chefe sabe que há algo de errado ou imoral e ele não que saber de lições. Ele quer a cumplicidade e ponto. Recusar a ordem pode tornar inustentável a continuação na empresa.
É hora de tomar a decisão.

http://colunas.epoca.globo.com/trabalhoevida/2010/04/17/como-contrariar-a-ordem-do-chefe/

“O segredo do sucesso é saber culpar os outros”





ter, 20/04/10
por Thiago Cid |


O senhor desmotivação. Para Lawrence Kersten, as pessoas são 
infelizes no trabalho porque acreditam que ele pode dar satisfação
Kersten, o senhor desmotivação. Para ele, infelizes são os que esperam satisfação do trabalho
Tentar se sentir motivado e otimista é uma atitude legítima de qualquer um que pegue no batente. Em tese, quando trabalhamos animados produzimos mais e melhor, e aumentamos nossas chances de ganhar mais dinheiro e trabalhos futuros mais estimulantes. As empresas acreditam no mesmo, e tentam motivar os funcionários. Para o doutor em comunicação organizacional Lawrence Kersten, todos que tentarem vão falhar miseravelmente.
Kersten é a personificação do cinismo, como muitos dos críticos profissionais e amadores da indústria da motivação profissional, mas tem um enorme diferencial em relação a maioria deles: descobriu como ganhar dinheiro com esse cinismo todo (já chegaremos a esse ponto).
Ele afirma que o trabalhador de hoje é levado a cultivar um narcisismo que o ilude com a promessa de sucesso, se houver empenho e boa vontade. “A verdade é que poucos empregos realmente dão satisfação. A maioria das pessoas têm de realizar trabalhos que não dão recompensas materiais ou espirituais”, diz.
No coração do problema estaria o discurso das empresas, que insistem em chamar o empregado de “talento”, “liderança” ou coisa semelhante. Com os estímulos motivacionais, a companhia daria ao funcionário alguma energia para seguir executando tarefas sem reclamar muito, e o ajudaria a cultivar sonhos irrealizáveis, que não condizem com o talento que ele geralmente possui.
Doloroso? Eu acho divertido. Para Kersten, é também lucrativo. Essa diferença entre discurso e realidade o levou a investir no ramo da desmotivação. Depois de lecionar por anos em diversas universidades americanas, como City University of New York e Southern California University, ele deixou a academia e se juntou a uma nascente empresa de software, em 1995. Passado pouco tempo, ele e dois colegas perceberam que estavam isolados na empresa por não pertencerem ao “clube dos engenheiros”. Um dia os três se viram praguejando contra a companhia, com um livro com belas fotos motivacionais aberto na mesa em frente. Os três começaram a fazer paródias com as fotos e fundaram a Despair Inc, para vender artigos bem-humorados sobre as enganações do mundo do trabalho. A empresa também publicou o livro The Art of Demotivation, um manifesto de Kersten contra a indústria motivacional.
Agora, aproveito para subverter a subversão: a própria história de Kersten não tem todos os ingredientes de um casinho de auto-ajuda? Ele havia trocado de carreira, deu-se mal com isso, passou por um momento de frustração e isolamento na nova empresa – e no momento ruim encontrou inspiração e garra para partir para outro trabalho, criativo e bem feito, que dá a ele prazer e dinheiro. Valeu pela dica, Kersten.
E você, fica mais ou menos animado ao ler as mensagens desmotivacionais?














Sempre se lembre de que você é único. Assim como todo mundo















O segredo do sucesso é saber quem culpar pelas falhas















Nunca houve tanta gente com tão pouco a dizer dizendo tanto para tão poucos


http://colunas.epoca.globo.com/trabalhoevida/2010/04/20/o-segredo-do-sucesso-e-saber-culpar-os-outros/